quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Amizade via internet revela nova forma de estar junto


É senso comum dizer que o computador não substitui a experiência real de relacionamento com outras pessoas. Mesmo assim, é possível conhecer alguém e manter uma amizade virtual autêntica. “Há uma mudança da concepção da amizade neste início de século 21. A amizade é um relacionamento que se dá cada vez mais no âmbito do compartilhamento e troca de ideias. O amigo não é necessariamente aquele que está ao lado, mas alguém com quem o estar junto se dá por meio de uma conversa, da troca de opiniões, experiências e concepções de pensamento”, afirma a psicóloga Lívia Godinho Nery Gomes Azevedo, autora do estudo Implicações políticas das relações de amizades mediadas pela internet, defendido em 2010 no Instituto de Psicologia (IP) da USP. 

Segundo ela, as amizades virtuais, assim como as convencionais, favorecem o aumento da reflexão e da ação dos sujeitos a partir do que o outro fala. “A autenticidade dos afetos nas relações mediadas pela internet revela uma nova maneira de estar junto na qual os sujeitos são mutuamente afetados pelas trocas simbólicas que se dão no registro discursivo das conversas online. Os intercâmbios de experiências e opiniões suscitam transformações subjetivas que modificam formas de pensamento e que podem instaurar o aumento da potência de agir”, diz. A divulgação do estudo também foi feita pela internet. “Enviei uma mensagem explicando a proposta do estudo para os meus contatos. As pessoas foram divulgando, inclusive para gente que eu não conhecia, e algumas entraram em contato, disponibilizando-se a fazer parte da pesquisa”. Lívia diz que esperava conversas curtas e com palavras abreviadas, mas foi surpreendida com entrevistas virtuais de em média uma hora e 45 minutos de duração. “As conversas me mostraram que as relações podem ser duradouras e que há autenticidade afetiva nelas. Também, as novas tecnologias favorecem o encontro entre as pessoas”, revela. Segundo ela, alguns dos entrevistados mantinham projetos profissionais e artísticos com amigos virtuais. “Uma menina, que era atriz, contou que conheceu uma amiga pela internet. Ambas moravam na mesma cidade mas nunca se encontraram, mas uma escrevia roteiro e enviava para a outra, por exemplo. Outro entrevistado conseguiu montar uma banda com gente que conheceu pela internet”. Ao todo foram 14 entrevistados. Todos eram adultos, tinham em média 24 anos e moravam em diversas cidades, como São Paulo, Belém (PA), Campina Grande (PB), Andradas (MG), Brasília (DF), Manaus (AM), Montes Claros (MG) e até Florença (Itália).

Lívia ainda afirma que cada vez mais as relações sociais estão sendo mediadas pelas tecnologias da informática. “Muitas pessoas não têm acesso à internet e, por isso, acabam excluídas, não podendo exercer plenamente sua cidadania. O não acesso a serviços que são oferecidos exclusivamente via internet, bem como a dispositivos tecnológicos cada vez mais presentes em todas as esferas da vida cotidiana conduzem a novos territórios de exclusão”, explica.

Fonte: Agência USP

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