quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Significado Bíblico do Advento



O Advento, termo que significa vinda, chegada, leva à reflexão sobre  três grandes manifestações de Deus: no Natal, no instante da morte e no fim dos tempos. Este tríplice fato exige da parte do crente uma total vigilância, ou seja , uma luta  vigorosa contra a negligência para se estar em condições de receber o Senhor. Daí a necessidade de uma preparação próxima para a comemoração do nascimento do Messias e uma atitude de alerta contínua para não se ser surpreendido pela morte. O Evangelho exalta a vigilância e exorta o fiel a praticá-la. O estado de alerta que caracteriza o vigilante é fundamental na existência do seguidor de Jesus. As palavras do Mestre divino foram claras: “Vigiai, pois, porque não sabeis em que dia vosso Senhor há de vir”( Mt 23,42). A vinda do Filho do Homem está marcada pela imprevisibilidade ( Mt 24,43; Mc 12,35 ss).  Eis  aí a razão pela qual o Apóstolo Paulo faz eco à admonição evangélica: “vigiemos e sejamos sóbrios” ( l Ts 5, 5s). Esta sobriedade significa  a renúncia a tudo que possa desviar a atenção da expectativa da chegada do Redentor. É que a vigilância significa mais do que um mero estado de acordado ou desperto. Inclui, necessariamente,  a idéia  da manutenção  de certa atividade  por um período de tempo mais  prolongado, acompanhado de uma atenção voluntária. Cumpre então ao cristão se libertar das preocupações, entregando o  fardo pesado de cada dia a Deus.( Sl 54,23) Com efeito, a nível de comportamento a vigilância supõe um processo de atenção ao fim principal, que , no caso, é o encontro com Jesus em circunstâncias imprevistas, mas que exigem uma preparação adequada. Daí outros componentes da vigilância, como a luta persistente contra as invectivas do Maligno. Esta pugna  supõe que o fiel esteja  alerta e em oração, segundo  a diretriz de Cristo: “vigiai e orai para não entrardes em tentação” ( Mt 26,41). É que a prece além de atrair a força divina para a resistência ao mal, força a atenção no objetivo em mira, qual seja a condigna recepção de Deus no instante preciso de sua chegada. É que os mecanismos espirituais devem ser ativados para que a dispersão não desintegre psicológica e espiritualmente aquele que crê. As oscilações que se verificam na existência de tantos cristãos que ora estão fervorosos, ora envoltos numa lamentável tristeza; certos dias num fervor exuberante,  em outros numa mórbida aridez  espiritual provém exatamente da falta de concentração em Deus. O Maligno é esperto. Na quadra do Natal desviará o pensamento de muitos para tudo que é exterior, inúmeros até se esquecendo do próprio Jesus que deverá ser a figura central do próximo 25 de dezembro. No decorrer da vida tudo que arrasta o ser racional para fora de si e para longe do Ser Supremo é tramóia diabólica que lança o batizado nas incoerências mais lamentáveis, contradizendo com ações o que proclama com os lábios. Advento se torna, deste modo, um tempo de reflexão profunda, de rearmamento interior ao som do grande clamor da Liturgia: “Vinde, Senhor Jesus”!

* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.