A obra do Concílio Vaticano II é considerável e exemplar. O Concílio produziu frutos históricos, eclesiais e simbólicos profundos. Mudou a face da Igreja em sintonia com o Evangelho de Cristo. Tornou compreensíveis as palavras dos seus seguidores e atualizou as riquezas milenares da fé no contexto das culturas do século 20. Este Concílio vivo produziu textos proféticos recebidos com amor em todas as Igrejas e religiões. Os 2.500 bispos participantes de 2.800 convocados, somados a 101 observadores não católicos, a 29 leigos homens presentes e às inéditas e competentes 23 mulheres, com a ajuda de dezenas de teólogos e o suporte técnico de 10 mil auxiliares e tradutores, redigiram um belo compêndio composto de 16 documentos oficiais: 4 Constituições, 9 Decretos e 3 Declarações. Todos sem anátemas nem condenações, imbuídos da perspectiva do diálogo e propondo a mensagem de Cristo para tempos novos. A fé de sempre nas palavras de hoje, sem arrogância e com muito amor pastoral.
Dos 16 textos, quatro se destacam por seu peso doutrinal. Trata-se das Constituições aprovadas: Sacrosanctum Concilium (SC) – sobre a Sagrada Liturgia (promulgada em 04/12/1963). Dei Verbum (DV) – sobre a Revelação Divina (18/11/1965). Lumen Gentium (LG) – sobre a Igreja (21/11/1964). Gaudium et Spes (GS) – sobre a Igreja no mundo atual (07/12/1965).
Os documentos conciliares quiseram mostrar à humanidade crente e às pessoas de boa vontade um novo rosto da Igreja como comunhão de Igrejas particulares, construída pela graça do Espírito Santo e tendo como pilar o exercício da colegialidade episcopal e uma permanente abertura ecumênica.
Evidenciam a Igreja do Cristo Jesus, como Povo de Deus estimulando a corresponsabilidade de cada cristão batizado e assegurando ao laicato e aos clérigos da Igreja uma evangélica comunhão ministerial. Antigas tradições foram restauradas, algumas modificadas ou abolidas e outras ainda criadas para que a Igreja seja fiel a Deus e à verdade que se faz encarnação permanente. Assim a língua local de cada povo se fez língua viva na louvação litúrgica e como expressão plural da única fé comum. Esta decisão produziu frutos riquíssimos como ocorria nos primórdios da fé nas antigas Igrejas do Oriente Médio, onde se falava idiomas diversos sintonizados no único amor de Cristo. Unidade na pluralidade e pluralidade na unidade.
A Igreja que começou a rezar no idioma aramaico se expressará nas liturgias em hebraico, grego, latim, nas línguas orientais chegando pelo ardor missionário à tradução necessária da fé cristã nas terras do Ocidente e aprenderá a se exprimir em celta, francês, espanhol, inglês, e português. Hoje cantamos e celebramos a ressurreição pascal em brasileiro. Esta é uma verdadeira sinfonia universal que resgata as antigas tradições dos ritos orientais, ricos e belos, e faz a fé cristã vestir a mais bela roupagem litúrgica, que é aquela do povo concreto que pretende evangelizar e amar.
Estes textos deram e dão frutos saborosos: o diaconato permanente é restaurado para homens casados; o sínodo dos bispos adquire caráter universal e permanente; o empenho ecumênico é concreto; o conselho de leigos se fortalece em nível internacional e local; são criadas as comissões de justiça e paz; nascem novas escolas de Teologia na América Latina, África e Ásia, além de uma fecunda leitura feminina; a vida mística e monacal é revalorizada em todas as Igrejas, articulando os dois pulmões da Igreja: o da ação e o da contemplação; a Palavra de Deus se faz no coração pulsante da Teologia; os encontros pela paz entre as religiões se multiplicam; cresce a dedicação firme na área da educação universitária em favor do diálogo entre fé e ciência moderna, expresso concretamente na fundação de novas academias das Ciências Sociais e na academia pela vida; e ocorre uma abertura inédita para os meios de comunicação em todas as suas plataformas e interfaces hipermodernas.
Esses 16 documentos expressam a mudança de espírito e atitude na Igreja Católica: ela quer ser uma Igreja prenhe de esperança! Apontam para uma Igreja do futuro, ensaio da Igreja sem fronteiras, corajosa e audaz, como nas sábias palavras do padre Yves Congar: “A obra realizada é fantástica. Entretanto, temos tudo ainda por fazer”.
Documentos Conciliares
Quatro Constituições
Sacrosanctum Concilium (SC) – sobre a Sagrada Liturgia (promulgada em 04/12/1963). Dei Verbum (DV) – sobre a Revelação Divina (18/11/1965). Lumen Gentium (LG) – sobre a Igreja (21/11/1964). Gaudium et Spes (GS) – sobre a Igreja no mundo atual (07/12/1965).
Três Declarações
Gravissimum Educationis (GE) – sobre a educação cristã (28/10/1965). Nostra Aetate (NA) – sobre a Igreja e as religiões não cristãs (28/10/1965). Dignitatis Humanae (DH) – sobre a liberdade religiosa (07/12/1965).
Nove Decretos
Ad Gentes (AG) – sobre a atividade missionária da Igreja. Presbyterorum Ordinis (PO) – sobre o ministério e a vida dos sacerdotes (07/12/1965). Apostolicam Actuositatem (AA) – sobre o apostolado dos leigos (18/11/1965). Optatam Totius (OT) – sobre a formação sacerdotal (28/10/1965). Perfectae Caritatis (PC) – sobre a conveniente renovação da vida religiosa (28/10/1965). Christus Dominus (CD) – sobre o múnus pastoral dos bispos na Igreja (28/10/1965). Unitatis Redintegratio (UR) – sobre o ecumenismo (21/11/1964). Orientalium Ecclesiarum (OE) – sobre as Igrejas orientais católicas (21/11/1964). Inter Mirifica (IM) – sobre os meios de comunicação social (04/12/1963).
Fonte:Família Cristã
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